Tuesday, August 01, 2006

No Lago...


Flamingos, London zoo, July 2006

Desci por horas quentes aquele espaço saturado, cheio de formigas ao sol que caminhavam, caminhavam, caminhavam por ali... formigas que se atropelavam para chegar mais depressa, para conseguir atingir o primeiro lugar, por vezes empurrando, outras sacudindo... formigas que se perdiam de vista, fulminadas por um movimento frenético,... gerações de formigas, com cores diversas, tamanhos, formas... Mas... formigas que caminham... formigas que aparentemente duas pernas apenas as faziam locomover, e assim continuei entre formigas aquele meu caminho... observando tantas formigas a nossa volta... parando por vezes para assistir ao misturar das formigas até as perder de vista... As pernas arrastaram-se, talvez o calor do tempo fosse muito desgastante, mas aquele universo de formigas perturbadas seria muito maior, muito mais intenso que qualquer raio de escaldante sol... O sol queimava a pele do corpo, pedia água ou simplesmente uma sombra húmida... amolecia o ser que sobre a sua desprotecção caminhava... mas aquele universo de formigas sem fim queimava a noção do espaço, do tempo, do sol até... desgastava até fim o pensamento... confusão que agita, confusão que estremeçe, confusão de generos e seres que se matam por um inferno manso... Era isso que eu via ali espelhado em todas aquelas formigas... não paravam, não escutavam, não sentiam, não brilhavam sequer com o sol quente que brilha no céu azul do dia que naquela ventania de formigas eu caminhava... Apenas caminhavam nuas de sentido, de razão, de oportunidade, nuas de alma perturbada.
Este caminho traveio acompanhado por alguns daqueles com quem partilho os momentos presentes. Neste caminho junto observamos o movimento da cidadania, duma cidade que já rebentou, que já explodiu, que já não alimenta a alma mas apenas a consome, no dia a dia dos que nela habitam. Até mesmo dos que por ela algum tempo passam. É uma cidade feita de formigas que quando já não conseguem encontrar o seu alimento, se comem por ai... Foi perante paisagem de flamigos, de pé alto, pescoço longo, cores brilhantes como as algas de um mar salgado... que todas estas formigas me encheram os olhos da mente... Foi no caminho que traçamos até neste espaço pararmos que as formigas nos engoliram... fazendo-me assistir ao filme dos tempos... deste tempo que vivemos agora!

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

"Apenas caminhavam nuas de sentido, de razão, de oportunidade, nuas de alma perturbada." Todos nós já fomos formigas. E é tão difícil encontrar um sentido, uma razão que nos vista. Que nos tire a nudez...

10:55 am  

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